Burocratas de plantão
Ativistas de sofá
Deuses da informação
Ratos da retórica
Animais em procissão
Magos da política
Pobres em ostentação
Monstros da estética
Não finja ver o que não vê
Não forje a dor que não sentir
Não fuja de onde quer ficar
Não fique se não quer estar
Templos da consumação
Anjos da perfídia
Padres da depravação
Demônios da mídia
Não finja ver o que não vê
Não forje a dor que não sentir
Não fuja de onde quer ficar
Não fique se não quer estar
Capítulo II
Houve um tempo que seu coração pulsava em paz
As mudanças de entonação tinham graça
Seu espírito trazia pouco com que se preocupar
Nem as dores eram mais que pirraça
Mas pra todos vem o dia de provar desse mel
A memória se esvai se convém
Basta oferecer mais de uma vez, e perde-se o pudor
Estendendo a mão que dá algo em troca
Quanto mais perto de alcançar
Mais difícil evitar
Cuidado com o que diz
Não entende que afasta quanto mais prende
Cuidado com quem você é
Tão reconfortante, apontar até o outro se queimar
Acertando as contas da Humanidade
Eis que surge a vez em que não dá pra ser mais hipócrita
A chama se apagou
É tarde
Quanto mais perto de alcançar
Mais difícil evitar
Cuidado com o que diz
Não entende que afasta quanto mais prende
Cuidado com quem você é
Capítulo III
Lembra de como era bom perder por tardes iguais
Jogar o mundo no chão, tirar a sorte sem ter
E como fazer pra calcular quanto de nós
Depositamos sem ver tudo voltar
Ninguém notou se formar um mundo falso e feliz
De imaginários mortais e primaveras febris
E como fazer pra compensar esse valor
Na guerra ou na paz pelo que for
Ser é uma ficção
Um urdir
Ser é enredar
O existir
Acreditamos viver uma só vida por vez
Nos desdobramos em mais do que podemos cumprir
Desenvolvemos cinismo, egoísmo e rancor
Aprendemos a roubar, matar e até destruir
E como tirar vantagem, como sair na frente
Quem somos nós, enfim, para julgar
Ser é uma ficção
Um urdir
Ser é enredar
O existir
Epílogo
Eu vejo o Sol se por na contramão
No contrapé do guardador do gol
O arco-íris no final do pote contraposto
Tangente ao ouro, o poste e o cachorro
Eu vejo o peixe pescando o anzol
A contragosto de seu pescador
O contragolpe encontra o rosto
A cara quebra a previsão
Quebra o contrato em contraposição
credits
from Estética de Queda,
released April 18, 2020
Carlos Vinicius Ribeiro - guitarra e voz
Bruno Hosp - baixo
Vander Nascimento - bateria
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